domingo, 3 de dezembro de 2017

café

num domingo
tedioso
eu entendi
que o amor era aquilo mesmo

o amor eram as minhas duas cadelas
deitadas preguiçosamente no pátio de casa
e quando me viam observando elas
segurando uma caneca de café frio
brilhavam os olhos e abanavam o rabo

um borrão cinzento
a devoção
os olhos marrons, miúdos
se fechando em regozijo
enquanto recebia festinhas naquela barriga peluda

e ela pulava
e me arranhava
sedenta por atenção
quase como quem diz
ei, me note
eu estou aqui
eu gosto de você
por favor goste de mim

e virava de costas pro chão
e rosnava e grunhia e latia
tudo por um afago ligeiro
por meio minuto de atenção
por qualquer palavra simpática
que as lembrasse de que elas não eram meros animais

e foi com um meio sorriso no rosto
e a barba cheirando a café
que eu entendi


eu não era tão diferente delas assim.

(Lucas Panzarini)

Nenhum comentário:

Postar um comentário