Como agnóstico que sou seria um
tanto hipócrita dizer que a existência ou não de um deus não afeta a minha
vida. Mas muito mais pelas questões que essa pergunta inspira do que por
quaisquer respostas provenientes de uma noção de divindade absoluta. A crença
em uma divindade é perfeitamente aceitável, seja ela qual for, dado o modelo de
sociedade que implica quase sempre em procurar respostas em algo que não é
propriamente uma resposta, porém uma eterna incógnita. Isso satisfaz a
curiosidade inerente ao ser mesmo sem ter que satisfazer, de fato, a
curiosidade inerente ao ser. Mas a grande questão não é sobre a existência ou
não. Vai além disso. Supondo que realmente haja um deus e que esse deus seja
real: não seria a sua amplitude grande demais pra ser concebida dentro do
próprio conceito de deus? A existência de uma criatura tão poderosa e universal
não ultrapassa os limites da ideia de realidade? Ora, sabendo que a realidade
nada mais é do que uma representação do objeto cognoscente por meio da
percepção sensorial limitada do ser humano, como dizer que deus é ou não real
quando isso depende de sentidos que quem sabe ainda não tenhamos ou
simplesmente não estejamos preparados para ter? Será que a magnitude de algo
tão onipotente não está simplesmente além do que podemos enxergar e quiçá
pensar? É justamente essa a magia da ideia de uma divindade suprema. Você sabe
que a existência é tão possível quanto a inexistência e sabe que, mesmo dentro
da hipótese que pressupõe a existência de um ser onipotente, ainda assim ele
não existiria, haja vista a imensidão do próprio ser e a magnitude e a própria
inexplicabilidade do fenômeno divino para seres limitados por cinco sentidos
físicos e crus. E finalmente, quando quem sabe haja a possibilidade de perceber
a existência de algo divino, percebamos que há de fato ou que não há de fato,
tornando a possibilidade de um deus algo mutável por variáveis simples de
percepção e consciência.
Deus é um eterno gato de
Schrödinger.
(Lucas Panzarini)