sexta-feira, 1 de maio de 2015

dies irae, dies ille.

E afinal, por quem os sinos dobram?

Não por mim. Jamais por mim. Os sinos batem, badalam, cantam cantigas e o meu réquiem. Me consomem a alma, me destroem a cabeça, me enchem a mente de gongadas eternas perdidas em lufadas de vento e fumaça e cheiro de gasolina. Dies irae, dies ille. Um dia, dois dias e a loucura e o desespero e o asfalto. O asfalto, sempre o asfalto. A mãe que acolhe os vagabundos, os errantes, os desiludidos e os mortos em vida. E o ódio que consome é o ódio que consola. E a faísca de esperança que morre a cada cigarro aceso na chama que consome o que ainda existe, o que ainda insiste, o que todas as noites pensa em morrer mas não se vai. E no fim o que resta é o medo. Que nada mais é do que o amor pintado de preto. E o coração, vermelho sangue, se parte em dois e se divide e se contorce enquanto busca no cérebro um fundo de razão que já não mais existe porque foi substituído por todo o álcool que eu consumi desde que eu só enxergava os cabelos longos caindo pelas costas e a porta do trem se fechando e então a paisagem morta da estação habitada por todas as minhas dúvidas.

E um sopro dispersa os limites da lareira enquanto Rimbaud se contorce em sua essência por ver a sua obra usada pra fim nenhum por um ninguém que sequer sabe falar francês.


(Lucas Panzarini)

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