A solidão? Ah pequena, a solidão é amiga de tempos. Me abraçava
quando você ia embora. E me cantava cantigas de ninar quando seus olhos
viravam ódio e os meus viravam lágrima. A solidão é uma amante cruel,
pequena. É a dor que mais vicia, é a tristeza que mais alegra. A solidão
era eu e você, pequena. A solidão é o gosto que ficava na minha boca
depois de uns quatro ou vinte cigarros, umas duas ou sete doses, uns
quatro ou mil beijos. A solidão é aquela marquinha de batom vermelho, é
aquele perfume doce, é a beirada do copo que você deixava mordida
enquanto olhava as pessoas dançando. E no fim da noite, quando as luzes
se apagam e o garçom começa a varrer o chão, a solidão é a meia dúzia de
rosas brancas que jogam no nosso túmulo pra depois virar as costas e ir
pra casa.
No final das contas a solidão é a única eternidade que temos.
(Lucas Panzarini)
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