segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

xadrez verde.

antes de sair
resolvi pegar uma blusa
e por coincidência
peguei a que costumava ficar com ela
botei o pé pra fora de casa
a fumaça dos meus vinte e tantos cigarros
o cheiro das minhas doze ou treze borrifadas de perfume
não foram suficientes pra mascarar
o cheiro de saudades na gola daquela camisa de flanela
eu fechava os olhos, me vinha um arrepio
era cheiro de cama confortável
cheiro de tardes sorridentes
era cheiro de chuva, era cheiro de dor
aquela dor azul de quem estica as pernas depois de horas sentado
aquela dor doce de quem sorri machucado
aquela dor que só sente quem já amou um dia
e de repente minhas mãos pareciam vazias
meus olhos não sabiam aonde pousar
e aquela noite abafada de dezembro se tornou fria
e eu bebi mais do que deveria
mas muito menos do que eu gostaria
e no final da noite eu ainda lembrava o meu nome
o meu endereço e o meu telefone
e até lembrei de tentar esquecer
eu deixei a água escorrer pelo corpo
eu deixei a angústia cair num banho morno
deitei a cabeça no travesseiro em silêncio
fiz minhas preces da noite em silêncio
dormi e sonhei e acordei em silêncio
e o silêncio que me queimava 
agora me ensinava 
um jeito novo de viver

(Lucas Panzarini)

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