sábado, 28 de fevereiro de 2015

sobre beber sozinho no bar.

A grande questão é que a vida é um imenso bar. Existem os boêmios, existem os executivos bem sucedidos tomando cerveja depois do expediente, existem as putas, existem os universitários, existem os cachorros se enfiando pelo meio das pernas dos bêbados e os derrubando, existem os garçons e no fim existe alguém que lucra com tudo isso. Com a derrota, com a vitória, com a tristeza ou com a felicidade. O álcool fala uma linguagem universal, é uma ponte delicada entre um evento e outro. E é claro que você sabe que mais hora ou menos hora aquilo tudo vai ruir. Os jogadores de sinuca vão embora, os apreciadores de whisky pagam a conta, os pobres imploram pra marcar no caderninho pra pagar mês que vem. E quando as luzes se apagam, quando as portas se fecham, quando o bafo quente que sobe do chão começa a ter cheiro de silêncio, é aí que o problema começa. As garotas se foram, os garçons estão dentro do ônibus, o dono do estabelecimento contabiliza os lucros. E toda a sua vida passa diante dos seus olhos. E por fim não adianta mais porque o bar fechou e só te sobraram três cigarros amassados e uma caixa de fósforos pela metade. E você começa a caminhar, banhado pela luz amarela dos postes e vê a rua banhada em ouro e poeira. E então você caminha, caminha, caminha mais um pouco, e os pássaros começam a cantar e, por mais que caia aquela garoa fina e fria, você sabe que é o início de um novo dia. E então você entra em casa, tira a roupa, toma um banho quente, se serve de uma xícara de café, vai até a janela, acende um daqueles últimos três cigarros e sorri. Porque no meio dessa confusão toda você não era nada além do cara sentado no final do balcão, tomando doses sucessivas de conhaque e lembranças. E quando você pediu a última long neck pra aliviar a garganta ardente de gengibre e choro contido, você sente a sua cabeça girando e jura que nunca mais vai beber na vida e que só quer sobreviver à essa ressaca pra virar um novo homem. Só que no fim você fala isso da boca pra fora, porque sabe que não adianta nada, você já morreu faz tempo, afogado em tudo o que te cercou um dia.

E então você se deita e fecha os olhos e reza pra que aquilo tudo seja só um sonho.

E então você acorda e quando menos espera já tá na porta do bar mais uma vez, esperando abrirem pra você pegar a primeira cerveja da noite.


(Lucas Panzarini)

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