A grande questão é que a vida é um imenso bar. Existem os boêmios,
existem os executivos bem sucedidos tomando cerveja depois do
expediente, existem as putas, existem os universitários, existem os
cachorros se enfiando pelo meio das pernas dos bêbados e os derrubando,
existem os garçons e no fim existe alguém que lucra com tudo isso. Com a
derrota, com a vitória, com a tristeza ou com a felicidade. O álcool
fala uma linguagem universal, é uma ponte delicada entre um evento e
outro. E é claro que você sabe que mais hora ou menos hora aquilo tudo
vai ruir. Os jogadores de sinuca vão embora, os apreciadores de whisky
pagam a conta, os pobres imploram pra marcar no caderninho pra pagar mês
que vem. E quando as luzes se apagam, quando as portas se fecham,
quando o bafo quente que sobe do chão começa a ter cheiro de silêncio, é
aí que o problema começa. As garotas se foram, os garçons estão dentro
do ônibus, o dono do estabelecimento contabiliza os lucros. E toda a sua
vida passa diante dos seus olhos. E por fim não adianta mais porque o
bar fechou e só te sobraram três cigarros amassados e uma caixa de
fósforos pela metade. E você começa a caminhar, banhado pela luz amarela
dos postes e vê a rua banhada em ouro e poeira. E então você caminha,
caminha, caminha mais um pouco, e os pássaros começam a cantar e, por
mais que caia aquela garoa fina e fria, você sabe que é o início de um
novo dia. E então você entra em casa, tira a roupa, toma um banho
quente, se serve de uma xícara de café, vai até a janela, acende um
daqueles últimos três cigarros e sorri. Porque no meio dessa confusão
toda você não era nada além do cara sentado no final do balcão, tomando
doses sucessivas de conhaque e lembranças. E quando você pediu a última
long neck pra aliviar a garganta ardente de gengibre e choro contido,
você sente a sua cabeça girando e jura que nunca mais vai beber na vida e
que só quer sobreviver à essa ressaca pra virar um novo homem. Só que
no fim você fala isso da boca pra fora, porque sabe que não adianta
nada, você já morreu faz tempo, afogado em tudo o que te cercou um dia.
E então você se deita e fecha os olhos e reza pra que aquilo tudo seja só um sonho.
E
então você acorda e quando menos espera já tá na porta do bar mais uma
vez, esperando abrirem pra você pegar a primeira cerveja da noite.
(Lucas Panzarini)
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